20 de jan. de 2011

Restrição: Contos Politicamente Incorretos (CPI's)


Adilson Jardim
O que seria um "conto politicamente incorreto" nos dias de hoje? A época não está pra peixe, a verdade é contestável e ela pertence a todo mund(an)o. Em literatura, existe algo politicamente incorreto? Mais ainda: existe política em literatura? A que atacar e pra quê? Quais os temas que ainda são capazes de ofender as pessoas? 

Sexo, estupro, racismo, pedofilia, misoginia, xenofobia, há inúmeros temas fáceis de se trabalhar, e ofender até que é fácil. Como fazê-lo? Os objetivos pertencem aos outros, assim como a leitura, eles que encontrem uma causa para a virulência do autor. Cortar o próprio dedo, fotografar e colocar em capa de livro? Nem o Van Gogh convence mais. Encher o texto de pornografia, cinco a cada 10 palavras entedia, até. Hoje, um livro de Sade produz talvez algumas masturbações entre intelectuais, como uma playboy muito aguardada desde o mês passado e que é esquecida no dia seguinte ao do lançamento. Essas são algumas colocações sobre o tema. Seguremos.

Na forma, ser politicamente incorreto também é fácil. Misture gêneros aparentemente inconciliáveis. Exemplo: Melodramas. A instituição acadêmica odeia, com raras exceções. Escreva com inúmeros erros  gramaticais e de digitação. Encha a história de clichês facilmente identificáveis. Escreva histórias edificantes, com mensagens de amor e finais sempre felizes. São inúmeras as maneiras de se produzir um conto politicamente incorreto, também. Mas esse caminho não produz contos suficientemente bons na qualidade. 

Esse é o problema: não é de fora para dentro que se produz algo que estarreça alguém nem mesmo que se produza uma reflexão sobre o politicamente incorreto. O erro tem de vir de dentro do autor. É necessário romper não o sistema por fora, mas os seus próprios valores morais, estéticos, filosóficos e éticos. Aquilo que lhe confere uma visão de mundo deve ser posto de lado em nome de uma fórmula que incorpore por negação tudo aquilo que você mais preza. Poderá notar, depois disso: o politicamente incorreto não será o dos outros, será o seu. 

Mas que interesse há em se produzir tal obra? Comece a fazer e notará: seus valores particulares ficarão mais aguçados e menos clichês. Mãos à obra.

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