Montagem com os oulipianos, tendo Queneau no centro
O Oulipo (Ouvroir de Littérature Potentielle - Ateliê de Literatura Potencial) está fazendo 50 anos em 2010. Pouco conhecidos por parte do público escolar e universitário e criticado por muitos, mas paradoxalmente muito frequentado por afixicionados e estudiosos de suas atividades nas reuniões na primeira quinta-feira de cada mês. Esses artistas se reuniram, em 1960, ao redor dos criadores do grupo, o poeta e escritor Raimond Quenau (Zazie dans le métro) e o matemático François Le Lionnais, que apostaram, em discordância com a ditadura volúvel do insconciente surrealista, na defesa do artista por trás da obra, como artífice que sua a camisa e os neurônios para estruturar sua imaginação em torno de uma forma bem acabada, sob o controle de restrições que sempre existiram não apenas nas artes, como também em toda escritura.
Nomes poderosos vieram se juntar ao Oulipo, como Georges Perec (La Vie Mode d'Emploi), Marcel Bénabou (Pourquoi je n'ai écrit aucun de mes livres) e Ítalo Calvino (O Castelo dos Destinos Cruzados), entre outros. Artistas que apostam deliberadamente em fórmulas previamente impostas à obra antes mesmo da primeira página, mas que lhes dão sentido, não servindo como pretexto, mas como mote ou tema, como um jogo de tarô a estruturar capítulos, situações e personagens no romance, certa vogal que some das páginas etc. Esta prática sempre foi comum em literatura, a exemplo da estrutura do soneto, de livros como o Jogo da Amarelinha, do argentino Júlio Cortázar, ou do Avalovara do brasileiro Osman Lins. Qual a diferença, então, do trabalho dos oulipianos para o de qualquer artista? É simplesmente evidenciar o jogo que toda escritura representa, o trabalho que envolve imaginação, mas também criação, invenção e memória.
Se cada obra é fruto de um acaso da imaginação do artista ou "acidente feliz", o Oulipo "produz" esses acidentes e mostra ao público a cada quinta-feira e há 50 anos. Mas essas pseudo-amarras da criação são desafios que somente os melhores artistas sabem retirar de sua recalcitrante frieza de signo morto, jogado à mesa e oferecido como produto, e torná-lo possibilidades de uma escritura que vai além de sua superfície polida. Possibilidades, "potencialidades" que empolgaram muita gente e fizeram surgir outros grupos potenciais, envolvendo artes plásticas, Revistas em Quadrinhos, Matemática, linguagem radiofônica, História etc. Aqui no Brasil, chegou a ser criado um Oblipo (Oficina Brasileira de Literatura Potencial), na UFRJ.
Inspirado no Oulipo é que surgiu, neste ano, nosso Alipo, por enquanto como um grupo de pesquisas ,cujo objetivo é estudar as potencialidades dos jogos criativos em diversas direções (Livro de Artista, Cadernos Gráficos, poemas visuais, livros alterados etc. etc.) aplicadas especificamente na sala de aula, como processo estético e pedagógico. Nossos pesquisadores criam e recriam aquilo que pesquisarmos do Oulipo e dos demais, em jogos que se revestem regras (restrições) gramaticais, mas não apenas isso, e que aliam à criatividade o próprio amadurecimento do aluno na construção de sua individuação como criador dos processos em sala de aula. Em outras palavras: como "artista".
Nenhum comentário:
Postar um comentário